Andrés Herrera

Andrés Herrera

Nasce em Oeiras no verão de 77, neto do cheirista da terra e eis que acontece o primeiro blend pouco provável, Mãe andaluza, Ana del Carmen e Pai beirão, Ilídio de Almeida, na área da restauração com mais de 4 décadas de atividade. Desde cedo esteve ligado aos vinhos através da extensíssima carta de vinhos do Mesón Andaluz, onde teve oportunidade de ler, sem provar, as letras mais sonantes da Ibéria vinícola, dactilografando marcas, preços e avaliações. Foi na primavera de 94 que nasceu para o vinho, uma, ou mais, Manzanillas na aldeia de El Rocio, numa noite a aflamencada, destaparam aquilo que viria a ser o seu futuro, “isto é único, tenho de aprender a fazê-lo”. Haverá sempre um antes e um depois desse momento.

Andrés Herrera

Matador frustrado, foi na tauromaquia que encontrou o seu balsamo da adolescência. Diziam que tinha arte, o que o fez percorrer, novamente, a Ibéria taurina vestindo de luces. Contrastava tardes de tremendo fracasso com o mais sublime dos triunfos, nunca foi toureiro de massas. Em 99, num arrebato conceptual, despede-se das arenas, “não sei se estou preparado para morrer assim”. Começava a sedimentar uma filosofia, uma personalidade e um carácter. Na realidade, nunca deixou a sua grande paixão, quer seja na solidão do campo bravo, ou em algum evento benéfico que o justifique, continua a tourear.

Assumido antissistema educacional, de volta à universidade, conclui, a muito custo, a licenciatura em Agronomia na Universidade de Évora, fase em que decide, por influência do seu sogro Quim Bento, iniciar a sua carreira profissional arrancando com um estágio de vindima com João Portugal Ramos onde acha que aprendeu o que era uma cepa. Entretanto, desde o momento em que começou a vinificar uvas em 2005, timidamente, começa o seu pequeno projeto pessoal, microvinificações experimentalistas que fundiam o Alentejo tradicional com a arte de Sanlúcar passando pela elegância de Ribera ou a potencia de Toro, sem esquecer a sua amada Heathcote com a frescura do Marlborough. Sempre acompanhado pelo genial João Mourinha, viticólogo que verdadeiramente o compreende e desafia no campo. Seguiram-se muitos mais estágios, Alorna, Diogo Campilho, Quinta do Frances, Cabaço, Cabrita, João Clara, Malhadinha Nova, teve tempo ainda de cruzar o equador e rumar a Heathcote (Austrália) para trabalhar durante dois anos com o icónico David Anderson e com C. P. Lin na Nova Zelândia. Já era consultor, produtor, mas continuava a fazer estágios, tal era a necessidade de experimentar… e errar. Curiosidade que, mais uma vez, os sucessos e os fracassos se fizeram presentes no seu  percurso. Desde os mais desgarrados elogios ouve uma frase, em 2008, que jamais esquecerá “nunca mais voltarás a trabalhar em Portugal e em nenhuma adega do mundo que eu conheça”, recusa-se a dizer o nome do mediático autor. Com esta frase, estava laçado o mote perfeito para iniciar a sua relação com o brilhante e controverso António Maçanita, quem nesse momento lhe deu a mão e com quem trabalha desde essa altura. Mais uma vez, aventuras e desventuras marcaram esta relação pela qual nutre verdadeira devoção e admiração.

Em 2009, e após terminar o mestrado em Viticultura e Enologia, lança o primeiro vinho oficial, Duende, e temos de esperar até 2017 para os novos lançamentos com os D, B, Torero e Duende, dos quais pouco mais se pode dizer para além do que já foi escrito. Após 6 anos de silencio, eis que chega o final de 2023 e novas colheitas vêm a caminho, novos vinhos, novos conceitos, novas inquietudes e novos medos. Fruto de uma mente inconformada, idealista, perfeccionista até a obsessão e nem sempre clara.

Não são vinhos de mente,

são vinhos que nascem do lado mais escuro do coração em que o melhor produto enológico que podemos usar, mete cada coisa no seu lugar… o tempo.